Rever alguém que nos conheceu quando usávamos conga azul-marinho provoca essa curiosa enrascada existencial. De um lado, uma testemunha do nosso passado - alguém que pode muito bem lembrar que você queria estudar astronomia e cantar no Globo de Ouro e casar com um sujeito igualzinho ao Erik Estrada.
Não tem zero a zero e bola ao centro - embora na vida real essa pausa para redefinir a estratégia do jogo seja muito mais frequente do que os momentos em que se sobe ao pódio ou se abandona o campo.
Na casa da mãe da Cris.
Nessa aquarela sem meios-tons, nada é mais "loser" do que ser um "winner" que se deu mal, nada é mais "winner" do que superar todas as expectativas. Por isso a perspectiva da testemunha é tão decisiva.
Na foto de cima, Luciane e Daniel, no Bourbon Country, no início de outubro e na foto abaixo, Andréa Maciel, Fabiola, Renata e Luciane, no Iguatemi, em abril.
A conversa pode ser sobre filhos, férias na Bahia ou o preço da gasolina, mas o subtexto nesse portal do tempo é sempre um jogo de comparações, da gente com a gente mesmo, da gente com o outro. Quem fez mais sucesso? Quem ganhou dinheiro? Quem amou mais? Quem se divertiu mais? Quem envelheceu melhor? Não que a gente queira o amigo fracassado, enrugado ou chorando um amor perdido. Normalmente basta nos sentirmos um tiquinho em vantagem para que a jovial cordialidade do sorriso oferecido ao amigo de infância seja ainda mais sincera.
Mas mesmo que a nossa pele seja de pêssego, e a nossa família seja de propaganda de margarina, e a gente tenha lido Balzac e contribua com alguma ONG bacana para melhorar a vida no planeta, ninguém sai assobiando de um encontro repentino com o próprio passado. Congela na memória do nosso amigo de infância, a criança que nós fomos nos abana confiante lá de longe. É dela talvez aquela voz que de vez em quando a gente ouve e não sabe bem de onde vem: "Olha bem, heim, Vê lá o que você anda fazendo com a gente."